Logística da pluma do algodão: entenda os desafios que ainda temos de enfrentar e como manter a qualidade do produto no processo de escoamento da produção.
O Brasil atualmente é o quarto maior produtor de algodão do mundo e o segundo maior exportador. Mas o escoamento da produção ainda tem grandes desafios para se tornar mais eficiente.
Hoje, a maior parte do transporte do algodão depende do modal rodoviário e, no caso das exportações, também do porto de Santos.
Neste artigo, separamos alguns aspectos que envolvem a logística da pluma de algodão e como garantir que o produto saia do campo e chegue à indústria mantendo alta qualidade da fibra. Confira a seguir!
A produção e a qualidade da pluma do algodão
A alta qualidade do algodão é uma exigência do mercado e nela está a garantia do seu lucro.
Por isso, os cuidados com o manejo da lavoura, como a escolha da tecnologia da semente, adubação, manejos fitossanitários e práticas sustentáveis como o MIP (Manejo Integrado de Pragas), são essenciais!
Ter um planejamento agrícola detalhado também faz toda a diferença, visto o alto valor investido para produção da cultura. Segundo o Imea, o custo de produção de algodão chega a R$ 7.252 por hectare atualmente.
Para alcançar uma qualidade elevada na fibra, o monitoramento diário de pragas e doenças se faz necessário, além de uma série de cuidados na colheita, armazenamento e transporte, como veremos a seguir.
Colheita
A qualidade da fibra do algodão tem relação direta com a qualidade do manejo e a forma como é feita a colheita garante manter ou não essa qualidade.
Por isso, passos básicos devem ser considerados como:
- realizar a colheita do algodão com tempo seco;
- garantir uma secagem adequada;
- realizar o processamento de descaroçamento, enfardamento em pluma e armazenamento em condições adequadas de temperatura e umidade.
E é preciso sempre estar atento a alguns erros comuns da colheita mecanizada, como:
- velocidade inadequada da colhedora;
- presença de daninhas;
- altura das plantas (que deve estar entre 1 m e 1,3 m);
- erro na utilização de desfolhantes e maturadores;
- falta de sistema de contenção de incêndios.
Armazenamento
Com a colheita feita, é preciso garantir um armazenamento adequado e seguro do algodão. O produto exige uma qualidade de pureza para seu valor agregado.
No armazenamento, o local deve ser livre de contaminantes, da mesma forma como o controle da umidade é essencial.
Lembrando sempre de não colocar os fardos diretamente em contato com o piso, evitando a fermentação do produto como a conhecida cavitomia.
Aqui no blog nós já falamos em detalhes tudo o que você precisa saber sobre o armazenamento do algodão. Confira!
Beneficiamento
Segundo a Abrapa, até a safra de 2019, existiam 247 algodoeiras que beneficiavam o algodão ainda em caroço proveniente das fazendas.
Elas estão distribuídas pelos seguintes estados:
- Bahia (49)
- Goiás (17)
- Maranhão (3)
- Minas Gerais (16)
- Mato Grosso do Sul (8)
- Mato Grosso (139)
- Piauí (3)
- Rondônia (2)
- Roraima (1)
- São Paulo (2)
- Tocantins (7)
(Fonte: Abrapa)
Vamos entender um pouco melhor como a tecnologia tem contribuído para o setor e para a alta qualidade do produto brasileiro?
A padronização e rastreabilidade da pluma
O Brasil tem crescido no mercado e muito se deve à tecnologia que vem adquirindo em relação à padronização e rastreabilidade do produto.
A boa classificação do nosso tipo de algodão, o pagamento de acordo com a qualidade e a centralização dessas informações de fácil acesso são alguns diferenciais.
Desde 2004, existe o Sistema Abrapa de Identificação, que centraliza as etiquetas de códigos de barras para padronização e identificação única dos fardos brasileiros de algodão.
O Programa Standard Brasil HVI – CBRA, promove uma padronização adequada do produto brasileiro medindo, com o equipamento HVI (High Volume Instrument), as características da fibra do algodão como:
- resistência – capacidade de suportar carga até romper-se;
- comprimento;
- uniformidade do comprimento (%);
- índice ou conteúdo de fibras curtas (%);
- finura;
- elasticidade;
- resiliência – capacidade da fibra voltar ao seu estado original;
- fiabilidade – capacidade da fibra se transformar em fio;
- umidade;
- cor, lustro e reflectância.
As vantagens da padronização são:
- sistema único e confiável de identificação dos fardos;
- obtenção de resultados laboratoriais ágeis de classificação;
- venda ao mercado externo facilitada.
Tanta rastreabilidade e transparência são exigências e qualidades necessárias para o mercado de exportações. Atualmente, a China é o principal país de destino do algodão brasileiro, seguido do Vietnã e Indonésia.
(Fonte: Abrapa)
O que impacta na logística da pluma do algodão?
Uma das atividades mais importantes e dispendiosas do processo produtivo é a logística, com influência direta das opções de modais.
Estudo realizado por Rocha et. al (2016) mostrou que a logística do algodão em pluma chegou a representar 10,36% da receita bruta total da produção. Só o transporte rodoviário contribuiu com 7,6% do custo de produção.
Segundo a Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga (ABTC), as cargas em geral se distribuem entre 65% por modal rodoviário, 15% por modal ferroviário e 20% por modal aquaviário.
No caso do escoamento da produção agrícola, especificamente, 45% depende do modal rodoviário.
Quando falamos do produto agrícola para exportação, o porto de Santos (SP) é um dos destinos principais. Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, um em cada três produtos exportados passa por lá.
Rotas
A opção de rotas tem relação direta com a infraestrutura e os aspectos tributários. Os tributos mais expressivos e de maior impacto nas operações logísticas são: PIS, Cofins, IRPJ, CSLL e ICMS.
O principal estado produtor do Brasil, o Mato Grosso agora conta com o terminal logístico em Rondonópolis (MT), que já faz as alocações em contêineres e o escoamento via malha ferroviária para os portos.
Já a produção da Bahia ainda se desloca praticamente toda via modal até o porto de Santos para os carregamentos.
A abertura de escoamento pelo Arco Norte via Santarém (PA) tem sido vista como opção de redução de custos.
Assim como o porto de Salvador (BA) para a exportação da pluma baiana que ainda concentra a sua exportação via porto de Santos.
A possibilidade de melhoria de nossa infraestrutura de escoamento com redução de custo, contribuiria com um aumento da competitividade do Brasil no mercado de exportações.
Conclusão
O país tem crescido no mercado de exportações, a nossa tecnologia de rastreabilidade e avaliação de qualidade do produto já é muito boa.
Da porteira para dentro, somos muito bem abastecidos de tecnologias e eficientes na produção.
Nosso maior desafio da porteira para fora ainda é a logística do escoamento da nossa produção.
As opções de modal são restritas e os custos são muito elevados. E para que uma mudança ocorra, é preciso haver melhoria da nossa infraestrutura de escoamento.
Restou alguma dúvida sobre os desafios da logística da pluma do algodão? Adoraria ver seu comentário abaixo!
Sobre a autora:
Sou Engenheira Agrônoma formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pós-graduada em Biotecnologia e Bioprocessos pelas Universidade Estadual de Maringá (UEM) e apaixonada pelos desafios de uma agricultura sustentável.